Para continuarmos as idéias trabalhadas na postagem anterior, vou agora comentar sobre a relação do professor na reforma educacional que começa nos anos 90.
lembrando que essa é uma perspectiva de análise e devemos avaliar diversas visões para que dessa forma possamos formar nossa própria opinião.
Essa reflexão é baseada em três textos:
- Jocemara Triches - Superprofessor: instrumento da "nova" educação. Organizações multilaterais e curso de Pedagogia: a construção de um consenso em torno da formação de professores. Dissertação de mestrado.
- Eneida Oto Shiroma e Olinda Evangelista - Professor: protagonista e obstáculo da reforma
- André Silva Martins (UFJF) - "Todos pela educação": o projeto educacional de empresários para o Brasil século XXI.
Para iniciar essa discusão deve-se lembrar que o contexto trabalhado é o cenário educacional no Brasil, nos anos 90. Cabe ainda lembrar que esse contexto pertence a uma sociedade capitalista baseada em um Estado Neoliberal, no qual existe uma classe dominante (burguesia) e uma dominada (proletariado) e estas classes são a base das desigualdades existentes.
Algumas políticas sociais precisam ser adotadas para que esse Estado Neoliberal e capitalista possa continuar prosperando. Uma dessas políticas está relacionada com a educação.
A educação é pautada como causa e solução dos problemas existentes nessa sociedade e de acordo com o que é discursado pelo Estado, pelas agências multilaterias e pelos intelectuais que defendem a continuidade desse modelo é que o professor seria o coração dessa dualidade entre solução e problema.
Desenvolve-se, através das agências multilaterais e dos intelectuais, que existem dois modelos específicos de professores. O primeiro seria o perfil pré anos 90, caracterizado por um professor obsoleto, conservador, repetitivo, teórico, que não domina a tecnologia, rotineiro, inflexível, sem dominio da diversidade. Tem-se portanto, o professor tradicional, problema, carrasco, objeto e obstáculo da reforma educacional.
A partir do momento que esse primeiro professor é construído, surge um segundo tipo, o professor pós-anos 90, proposto pelas agências multilaterias, Estado e seus intelectuais orgânicos (condizentes com as propóstas do modelo vigente).
Este novo professor diferente do primeiro caracteríza-se como um superprofessor com quatro elementos que o compõe:
- O primeiro elemento relaciona sua reconversão, o professor deverá ser multifuncional, polivalente, responsável, flexível, dominador das tecnologias, inclusivo, tolerante e principalmente, sem críticas às determinações de sua condição.
- O segundo elemento relaciona-se ao alargamento do seu campo de atuação pela multiplicação de suas funções e ampliação de suas competências.
- O terceiro elemento está ligado à ampliação dos conteúdos da formação, refletindo em um currículo inchado, comprometendo o tempo e qualidade da formação.
- O quarto, e não menos importante elemento, seria a imprecisão na definição do ser professor.
O superprofessor seria um ator, protagonista para poder interpretar esse novo papel que lhe é atribuido, de instrumento e solução dos e para os problemas.
O professor torna-se marionete da reforma propósta pelo Estado, seria o perfeito instrumento para auxiliar nesse processo, por ser um profissional universal, com o qual todos os outros trabalhadores tem contato.
A educação tem a perspectiva de proporcionar o desenvolvimento tecnológico e econômico para que o Estado capitalista e Neoliberal continue vigente, o trabalhador necessita ser flexível, multifuncional, polivalente e principalmente submisso.
Nasce, dessa forma, a Pedagogia do Neoliberalismo, Pedagogia dos Resultados, das Competências, Pedagogia Construtivista, a Pedagogia da Hegemonia.