quarta-feira, 22 de junho de 2011

O papel do professor na reforma dos anos 90




Para continuarmos as idéias trabalhadas na postagem anterior, vou agora comentar sobre a relação do professor na reforma educacional que começa nos anos 90.
lembrando que essa é uma perspectiva de análise e devemos avaliar diversas visões para que dessa forma possamos formar nossa própria opinião.

Essa reflexão é baseada em três textos:

- Jocemara Triches - Superprofessor: instrumento da "nova" educação. Organizações multilaterais e curso de Pedagogia: a construção de um consenso em torno da formação de professores. Dissertação de mestrado.
- Eneida Oto Shiroma e Olinda Evangelista - Professor: protagonista e obstáculo da reforma
- André Silva Martins (UFJF) - "Todos pela educação": o projeto educacional de empresários para o Brasil século XXI.

Para iniciar essa discusão deve-se lembrar que o contexto trabalhado é o cenário educacional no Brasil, nos anos 90. Cabe ainda lembrar que esse contexto pertence a uma sociedade capitalista baseada em um Estado Neoliberal, no qual existe uma classe dominante (burguesia) e uma dominada (proletariado) e estas classes são a base das desigualdades existentes.
Algumas políticas sociais precisam ser adotadas para que esse Estado Neoliberal e capitalista possa continuar prosperando. Uma dessas políticas está relacionada com a educação.
A educação é pautada como causa e solução dos problemas existentes nessa sociedade e de acordo com o que é discursado pelo Estado, pelas agências multilaterias e pelos intelectuais que defendem a continuidade desse modelo é que o professor seria o coração dessa dualidade entre solução e problema.
Desenvolve-se, através das agências multilaterais e dos intelectuais, que existem dois modelos específicos de professores. O primeiro seria o perfil pré anos 90, caracterizado por um professor obsoleto, conservador, repetitivo, teórico, que não domina a tecnologia, rotineiro, inflexível, sem dominio da diversidade. Tem-se portanto, o professor tradicional, problema, carrasco, objeto e obstáculo da reforma educacional.
A partir do momento que esse primeiro professor é construído, surge um segundo tipo, o professor pós-anos 90, proposto pelas agências multilaterias, Estado e seus intelectuais orgânicos (condizentes com as propóstas do modelo vigente).
Este novo professor diferente do primeiro caracteríza-se como um superprofessor com quatro elementos que o compõe:
- O primeiro elemento relaciona sua reconversão, o professor deverá ser multifuncional, polivalente, responsável, flexível, dominador das tecnologias, inclusivo, tolerante e principalmente, sem críticas às determinações de sua condição.
- O segundo elemento relaciona-se ao alargamento do seu campo de atuação pela multiplicação de suas funções e ampliação de suas competências.
- O terceiro elemento está ligado à ampliação dos conteúdos da formação, refletindo em um currículo inchado, comprometendo o tempo e qualidade da formação.
- O quarto, e não menos importante elemento, seria a imprecisão na definição do ser professor.
O superprofessor seria um ator, protagonista para poder interpretar esse novo papel que lhe é atribuido, de instrumento e solução dos e para os problemas.
O professor torna-se marionete da reforma propósta pelo Estado, seria o perfeito instrumento para auxiliar nesse processo, por ser um profissional universal, com o qual todos os outros trabalhadores tem contato.
A educação tem a perspectiva de proporcionar o desenvolvimento tecnológico e econômico para que o Estado capitalista e Neoliberal continue vigente, o trabalhador necessita ser flexível, multifuncional, polivalente e principalmente submisso.
Nasce, dessa forma, a Pedagogia do Neoliberalismo, Pedagogia dos Resultados, das Competências, Pedagogia Construtivista, a Pedagogia da Hegemonia.  

Relação em Estado e Educação nos anos 90



Vou aproveitar o blog para discutir alguns assuntos trabalhados nas aulas de Estado e Política Educacional. Como acredito que todo o conhecimento deve ser compartilhado, vamos ao ponto. Lembro ainda que essa é uma forma de entendermos a realidade e vale ressaltar que devemos ampliar sempre nosso horizontes para podermos criticar de forma adequada.
A discussão que será realizada é baseada na análise dos textos:

Estado e Política Educacional do Brasil. Maria Elizabete Sampaio Prado Xavier e Roberto Antonio Deitos.
Em Deitos et al. Estado, Desenvolvimento, Democracia e Políticas Sociais. Cascavel: Edunioeste.
E o texto Estado, Sociedade e Classes. Em Ianni, O. Dialética e Capitalismo. Petrópolis, Vozes, 1987.
Nos anos 90, a partir do governo do presidente Collor, vivemos em um sistema Neoliberal que continua nos governos de Fernando Henrique e também de Lula, assim como no governo atual de Dilma, esse é o ponto de partida para compreender a relação entre Estado e educação.
Al´me de um Estado Neoliberal ele também tem a característica de ser capitalista, ou seja, existem diversas relações de poder nas quais existe uma burguesia que detém o poder e provalentemente é favorecida e uma classe trabalhadora que é responsável por servir de mão de obra para dessa forma existir capital circulante, principalmente para a hegemonia da classe burguesa.
Ainda podemos citar como fator significativo para o debate o momento de globalização e internacionalização vivenciado pelo Brasil. O país nunca esteve tão relacionado com as políticas e economias mundiais como está no atual momento, seu foco em manter boas relações internacionais e fazer parte do cenário mundial faz-se de grande importância para a atual situação educacional brasileira, uma vez que esta torna-se um elemento contraditório, pois ao mesmo tempo que a educação é cogitada como um dos maiores problemas para que o Brasil não consiga progredir e se expandir mais, não só nacionalmente, mas principalmente internacionalmente, a educação seria a solução para os problemas do Brasil.
Dessa forma para diminuir os problemas econômicos e sociais mais alarmantes utiliza-se de políticas sociais amenizadoras para a economia, por exemplo, Fome Zero, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida. Além disso, porém não menos importante, surgem medidas para transformar a educação em algo que é colocado como possível solução para os problemas educacionais que seriam impecílio para o crescimento do país.
A política educacional dessa forma poderia ser resumida  em seis medidas, as quais seriam um forma de trabalhar a educação como solução de problemas.
As medidas seriam:
1 - A necessidade de adequação á economia mundial. Para que isso possa ocorrer seria necessário uma atenção e investimento maior nas escolas, principalmente de ensino básico, dessa forma pode-se ter uma maior qualidade educacional e tecnológica para competir no cenário mundial. 
2 - Para uma desenvoltura melhor no cenário mundial necessitá-se de mão-de-obra qualificada, mais uma vez firmando a necessidade do investimento na educação.
3 - Aponta para os problemas intra-escolares, pois não existe forma de desenvolver educação adequada sem professores, salas adequadas, material didático.
Percebe-se nessas três primeiras medidas a discussão voltada principalmente para a escola básica.
4 - Na quarta medida critíca-se a instabilidade política, ou seja, apesar da conquista do fim da ditadura, tem-se uma democracia frágil, pois um governo não dá continuidade adequada as medidas iniciadas pelo governo anterior, isso torna-se grave na educação.
5 - Está ligada à falta de avaliações e informações relacionadas a educação, surgindo como possíveis soluções as avaliações de professores e os chamados "provões".
As medidas 4 e 5 estão ligadas às questões de gestão da educação, através da articulação de recursos.
6 - A sexta medida, e talvez a principal para descrever o Estado Neoliberal Internacional Capitalista e Globalizado atualmente, é a necessidade da ajuda, principalmente do capital externo, para suprir a ineficiência e incapacidade do próprio Estado. Nesse contexto, podemos visualizar a forte tendência de privatização educacional e ajuda externa para o atual momento da educação vigente no Brasil.

Na próxima postagem vou falar do "problema" colocado nos ombros dos professores.