quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Um dia de cada vez - Flor do Campus


Primeiro dia de intervenção

Confesso que estava ansioso para aplicar a atividade com o G2 (crianças com idade entre 1 ano e meio e dois anos), no Flor do Campus. Acredito que não ter tanta experiência com essa faixa etária, com certeza era um dos motivos para fazer a ansiedade aumentar.
Ao mesmo tempo em que temos tanta coisa para aprender com as crianças, nos sentimos, ou melhor sinto-me na obrigação de proporcionar algo marcante para elas. Não algo que obrigatoriamente elas possam aprender, reproduzir, decorar como fazer, mas algo que possa ser significativo.
Por mais que tudo esteja organizado, a atividade, os tempos, os procedimentos, tudo sempre passa por diversas possibilidades, devido à imprevisibilidade do ser criança.
Tão imprevisíveis que podem passar da alegria extrema para o choro compulsivo em segundos.
Pode ficar super atenciosa com algum barulho e de repente se dispersar ao ver um fantoche de palito.
As crianças são breves... Breves como muitos momentos em nossa vida, desde os alegres até os tristes.
As crianças são breves... Breves como o tempo em que um beija flor para de bater as asas.
As crianças são breves... Breves como nossa própria vida.
As crianças são simplesmente breves.
Sinto esse poder delas de mudarem seu humor como o tempo que o vagalume, acende e apaga.
E isso tudo é muito encantador.
Planejamos contar uma história e interagir com fantoches de palito, mas não tivemos história contada, apenas imagens mostradas e uma grande interação com os bonecos de palito.
As coisas começaram a ficar mais interessantes quando fomos para a área externa, para plantar os corações de papel.
Enquanto um cavava a terra, os outros distraiam-se com outros atrativos do espaço.
Aos pouco um a um, foram plantando os corações. Não sei bem se entendiam o que estavam fazendo, se compreendiam o motivo, mas estava prazeroso, vê-los mexer na terra e ao mesmo tempo divertindo-se de um lado para o outro.
Corpos soltos pela grama...
Hora da sala de arte. Pintar com cola colorida os potes que seriam os futuros vasos.
Alguns tímidos, não ousavam colocar a mão na cola, preferiam o pincel. Outros achavam melhor colocar um dedo e outros a mão toda.
Cada um em seu tempo, do seu modo, com suas ideia, colorindo o pote. Experimentando a nova textura, as cores, a bagunça.
Alguns acabaram logo, outros não queriam acabar, mas era hora de limpar as mãos para sujar mais uma vez. Dessa vez com terra.
Voltamos para a sala com os potes e descobrimos uma nova tática, quando dizíamos que seria contado um segredo, todos ficavam em silencio. Divina mágica.
Mostramos as mudas de plantas e dissemos que naquele momento eles iriam plantar.
Mais uma vez a festa estava armada. Todos para fora, cada um com seu pote, sentados em roda e um saco de 5 kg de terra no meio deles, portanto, mão na massa!!!
Terra para todos os lados. Na mão, na roupa, no tênis, na camiseta, terra que não acabava mais. Potes pela metade, hora de colocar as sementes. Depois mais terra. Diversão incrível, que era até difícil livrarem-se dos potes, uns choravam, enquanto outros preferiam virar o pote com a terra e com todas as sementes dentro!
Aos poucos, acalmando os chorões, replantando os que haviam jogado a terra fora, tudo foi se acalmando e foram voltando para a sala.
Era hora de nos despedir, pois a outra turma estava chegando. Agora vamos esperar para o que nos aguarda na próxima semana!!


Segundo dia de intervenção.

A ansiedade é menor, porém sinto que temos poucas atividades e muito tempo, mesmo assim tinhamos algumas "cartas na manga". 
Quando chegamos, somos avisados que o lanche das crianças seria depois de meia hora do inicio de nossas atividades.
Também tivemos uma ótima noticia de que na segunda-feira, após nossa atividade de plantar os corações de papel, a primeira coisa que as crianças fizeram foi procurar para verificar se eles havia brotado.
Fico mais tranquilo, pois tenho absoluta certeza que iremos ocupar esse tempo tranquilamente.
Cumprimentamos as crianças, que mesmo depois de me olharem sem barba, ainda insistem em me chamar de pai (talvez essa seja uma reflexão para um próximo texto).
A primeira atividade programada é colher as flores de papel, as quais já estavam colocadas em seus devidos locais. Quando as primeiras crianças chegam, expressam um olhar de espanto e surpresa.
Aos poucos vamos distribuindo as flores, pois cada uma tinha o nome de uma das crianças.
Depois elas voltam para a sala de aula. Apesar de algumas deixarem as flores pelo caminho, uma das crianças pegava e ia formando um buque com essas que haviam sido deixadas.
A atividade na sala eram três filmes relacionados com músicas de plantas e isentos.
Com o ambiente devidamente preparado, com um lençol improvisado que servia de telão, para a sessão de cinema.
As crianças ficam vidradas nos vídeos e prestam muita atenção. Algumas balançando levemente a cabeça no ritmo da música, outras repetindo algumas palavras.
A mãe de uma das crianças chega e ficamos com o grupo mais reduzido. Inicialmente com seis crianças, agora estava com cinco.
Logo após o filme buscamos as mudanças que elas haviam plantado na primeira aula para que possam ser regadas. Cada uma rega um pouco de cada planta e mostramos para elas onde cada uma está brotando.
Após cuidarmos das plantas, passar álcool nas mãos, pois é hora do lanche.
Bola, bolacha, gelatina e suco.
Alguns comendo timidamente, outros sem nenhuma cerimonia, colocando tudo na boca de uma vez, até perceberem seus limites!
É encantador perceber como cada um vai descobrindo a comida, estranhando o gosto, sentindo a textura, a sensação de tocar a gelatina.
Cada um em seu ritmo - como de costume - pedindo mais, outros satisfeitos. Aos poucos todos vão acabando e voltando para a sala.
Voltamos com as crianças para a sala.
Sinto uma sensação boa, de um “dever” cumprido, mas algo antes de tudo prazeroso. Estar perto das crianças, tentar sentir o tempo delas, sentir as vontades delas, exercendo a alteridade e buscando de alguma forma absorver um pouco desse universo, pelo qual já passamos e ao mesmo tempo parece-nos tão distante.
O que elas aprenderam?
Prefiro não pensar sobre isso.
O tempo da criança não é o nosso, logo a forma de assimilação delas é outra, portanto prefiro que o tempo delas encarregue-se de mostrar o que vale ou não ser lembrado.
Busco uma forma de formar o outro e me formo, nesse processo que em muitas vezes deixamos de perceber sua mão dupla!

Cabe aqui o agradecimento do nosso grupo de trabalho (Ana, Gustavo, Pamela) para todos do Flor do Campus que nos auxiliaram. Coordenadora Seandra, professora Lais e auxiliares, Tuani e Aline. Claro que nosso agradecimento à professor Gabriele Nigra que nos proporcionou essa experiência.

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