terça-feira, 21 de setembro de 2010

O que aprendemos com a morte?

Como é difícil pensar que algo foi feito em vão.
Sim, fiz todo um diário em vão, pois depois que saí de Lins, como se fosse certo para acontecer, você piorou, ficou instável, pressão caiu, seus órgãos não mais reagiram, você se foi... Aquela pessoa forte, sorridente e trabalhadora que sempre admirei se foi. Aquela pessoa que encantava a todos de uma forma que ninguém sabia explicar, aquelas pessoas que chamamos de especial, simplesmente por chamar. Agora foi chamada em outro lugar, foi para outro destino, talvez socorrer e alegrar outros, dar exemplos e contar outras histórias.
Pensar que você está em outro lugar é o mais simples e fácil para tentar aceitar tudo, pois entender, eu nunca entenderei.
Dói muito perder alguém. É uma daquelas coisas que nós sempre pensamos: “Comigo isso nunca vai acontecer”, mas é fato, acontece!
Não temos para onde fugir, não temos um telefone para ligar, nem um e-mail, muito menos um endereço para mandar cartas, cartões postais, não temos mais como ouvir os conselhos e opiniões, ouvir as broncas ou contar as novidades.
Contar as novidades... E parece que em dois anos existem tantas... Tanta coisa mudou, tantos rumos tomaram caminhos diferentes, mas uma coisa parece que não muda nunca, a vontade de querer compartilhar e não poder, o beijo e o abraço calorosos que sempre era fácil de conseguir, os conselhos em forma de histórias de vida, o jeito de cobrir à noite antes de dormir, como se as cobertas fossem um casulo que me abrigava.
Aí pensamos: “Poxa, que vida mais injusta! Justo na melhor fase, não tenho mais você para compartilhar tudo isso.” Nesse instante, esquecemos que na verdade os melhores momentos são aqueles que vivemos no dia de hoje ou aqueles momentos em que passamos juntos: os almoços, abrir pacotinhos de figurinhas no banco da praça, torcendo para não ser mais uma repetida, os cafés da manhã fartos na casa do vô, as viagens longas para buscar e levar carros, os papos ao vivo ou pela webcam, pois mesmo quando você estava no Japão, tinha certeza que te veria mais uma vez.
Não seria nada mal vê-lo outra vez e ouvir mais uma vez a frase que você me disse exatamente um mês antes disso tudo ter acontecido: “Eu tenho muito orgulho de você! Te amo.”
Agora não me venham com essa história: “Ele está ao seu lado sempre.”, “Ele sempre irá acompanhá-lo.” Isso talvez diminua levemente a dor da saudade, mas trocaria todo esse alívio para saber pra onde você foi ou onde você está agora. Aliás, quem criou esse sentimento de saudade? Sentimento incrivelmente dolorido.
Fará dois anos que você não está mais “perto” de mim, fará dois anos que não pude mais abraçá-lo, nem contar as novidades e as ideias novas, nem mostrar as novas tatuagens e muito menos entregar-lhe o diário que escrevi pacientemente, talvez para aliviar um pouco da minha dor, desde que soube do seu acidente (e por acaso aquela noite, mais precisamente às 4 horas da manhã, somado com as 16 horas que passei viajando para poder vê-lo, foram os piores da minha vida).
Toda a semana em coma até seu último dia, na esperança de que você iria se recuperar e tê-lo com a lembrança de um susto que teria sido superado, porém o susto não foi superado, não por falta de luta de sua parte, mas sim por algum motivo que desconhecemos, motivo que é o maior mistério que envolve a vida, a morte.
Na época em que tudo aconteceu, as pessoas diziam que eu era forte, mas ninguém sabe o quanto senti dor, quanto foi real e ao mesmo tempo misterioso saber que a morte está ao nosso lado, pois nunca imaginei que alguém cheio de vida, com 47 anos, poderia morrer, até imaginava, mas não meu pai.
Um dia me disseram: “Seja você! Realize-se nessa vida em homenagem a ele, sua mãe e ao mundo, pois um dia você ao deixar de ser nesse mundo, curiosamente continuará sendo através de alguém que também guarda a sua bela essência.” E como diria Carlos Drummond de Andrade “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”. Hoje prefiro não mais sofrer, estaria sendo hipócrita, pois em seu leito de morte falei para todos aqueles que estavam presentes que “não seria digno nos despedirmos de você com choro, pois a felicidade era um símbolo de vida para o seu dia a dia.”
Meu pai, pode ter certeza que uma coisa é certa: “Levo você no olhar...” Espero que esteja em paz!

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