segunda-feira, 25 de outubro de 2010

O Quase “Esboço” da Vida





“Não existe meio de verificar qual é a boa decisão, pois não existe termo de comparação (…) Mas o que pode valer a vida, se o primeiro ensaio da vida já é a própria vida?” É isso que diz Milan Kundera em um de seus livros.
Depois dessa breve reflexão ele prossegue dizendo que isso faz com que a vida pareça um “esboço”, mas ainda não seria a palavra exata, pois o esboço é a prévia de uma idéia, mas na verdade, na vida não conseguimos nem ter essa breve idéia, simplesmente pelo fato de que na vida tudo é como se fosse a primeira vez.
Não existem dias iguais, por mais monótona que seja a sua rotina sempre existe algum fato diferente, pode ser pequeno, mas ele existe.
Aquele dia que você acorda, sem a menor vontade de sair da cama (parece muito com uma segunda-feira), mas perceberam a palavra que usei? “Parece”, e parecido não é igual, por isso por mais que sua falta de vontade tenha uma similar semelhança com a semana anterior, não será idêntica, pois muita coisa envolvida não foi idêntica.
Você pode ter tido um final de semana maravilhoso, com viagens, muita comida boa, horas de um sono extremamente relaxante, pode ter passado o dia todo em águas termais e batido um papo super empolgante com um amigo que não via a muito tempo, por isso, mesmo que aconteça aquela “preguiça” de levantar na segunda, o seu fim de semana fez com que seu corpo produzisse respostas diferentes para essa “dificuldade”.
Vamos pensar um novo exemplo, acredito que relacionamentos são as melhores formas para relacionarmos essa idéia de esboço.
Em todos os seus relacionamentos anteriores você não se deu bem, descobriu que ele (a) era um mentiroso (a), descobriu que a família dele (a) não era nada agradável, percebeu que todo aquele “papinho” dele (a) era pra poder estar com você por curtição, ou ainda chegou naquela tão temida conclusão que ele (a) simplesmente não te quer mais. É o momento exato para entrar em pânico, chorar, procurar os amigos (as), chorar, ficar em casa e não querer sair, ou querer sair demais, chorar, falar mal dele (a), ou simplesmente decidir ir dormir mais cedo pro dia passar mais rápido e claro chorar mais um pouco antes de “cair no sono”.
O tempo (o verdadeiro dono da razão) passou, você se recupera, coloca na cabeça que nunca mais terá um relacionamento amoroso, eis que surge ELE (A), tudo que você sempre idealizou, com senso de humor, boa gente, com bons relacionamentos, o seu jeito de falar, suas idéias, seus valores, nesse momento você pensa: “– Como uma pessoa dessas está sozinha?”. Tudo é impressionantemente do jeito que você sempre sonhou, surgiu a paixão, mas ao mesmo tempo existe um fator importante, uma luz que pisca em sinal de alerta e diz: “-Ei, você tem certeza que quer sofrer tudo aquilo que sofreu anteriormente? Tem certeza que quer ter uma nova decepção na sua vida?”
Isso só existirá como um mecanismo de defesa que pode ser posto de lado, pois nada é igual o que aconteceu anteriormente, as histórias serão outros, os caminhos serão novos, o aprendizado será diferente, tudo isso pelo simples fato de que “não existe um termo de comparação”, se teimarmos em comparar todas as situações que acontecem seremos eternos frustrados, amargurados com a vida, andaremos em círculos e deixaremos de aprender coisas novas, pelo simples fato de não compreendermos que nada é nem mesmo um esboço de algo.
Cada dia é diferente, cada momento é único por mais que tudo pareça ser repetido nossa vida é renovada em todos os instantes, pode acreditar que desde as alegrias até os momentos de dor, todos têm sua singularidade!

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