Uma hora da mandrugada, o cansaço já bate, afinal o dia teve muito trabalho, mas a mala já está pronta, tudo no seu espaço reservado, passagem na mão pronto para ir até a rodoviária.
Sem atrasos, duas horas da manhã ele já esta na rodoviária, apesar do ônibus ser às 2:30 horas. Por mais incrível que possa parecer ele não teve nenhum minuto de atraso, assim sendo parecia que tudo seria tranquilo, mas só parecia.
Entrou no transportador de pessoas e caminhou em direção ao seu banco, que estava com uma pessoa dormindo, não se acanhou em acordá-la e dizer:
- Senhor, desculpe acordá-lo, mas minha poltrona é a 21.
O senhor com aquela cara amassada e um leve banco levanta e vai para o número que lhe cabia.
Uma leve demora para que as bagagens e os passageiros pudessem ser ajeitados e sem mais delongas o caminho segue, afinal ele seria longo...
Meia hora após a partida, ouve-se roncos, não era de uma pessoa apenas e não era em um único tom, praticamente um coral de diversos "tons roncadores". Apesar do barulho levemente incômodo a solução era simples, um bom fone de ouvido e algumas músicas agradáveis resolveriam.
No instante em que o sono começa a chegar surge a primeira parada do ônibus após o embarque. Parada que o motorista relata ser de 15 minutos para lanche. O detalhe mais interessante é o horário, 4 horas da manhã. Parada para lanche? OK....
Tudo bem, alguns levantam, vão ao banheiro, outros até arriscam comer uma coxinha, um pastel e depois todos de volta ao carro para seguir viagem.
Após uma hora nova parada para embarque. Uma pessoa decide descer para comprar uma água, o motorista permite e claro que a pessoa demora mais do que o necessário e todos precisam esperar a passageiro voltar para que a viagem continue.
Hora de tentar dormir um pouco, se não fosse a pessoa do banco ao lado ser extremamente espaçosa e ocupar uma parte do banco que você tenta descansar. Tudo bem, apenas reduz um pouco do espaço para ficar acomodado, mas o sono logo vem.
Você tenta reclinar um pouco mais o banco e descobre que aquele é o máximo, mas mesmo assim dorme. Apesar do sono parecer estar perfeito, logo surge uma sensação estranha no braço, na perna... Os membros estão dormentes, você acorda e percebe que seu pescoço também não está tão relaxado como deveria.
O dia já começa a amanhecer quando surge uma nova parada para embarque e os poucos lugares livres que haviam são preenchidos, mas é claro que antes do carro partir surge uma leve "intriga", pois o lugar de uma nova passageira estava ocupado por outra pessoa. O motorista é chamado e descobre-se que a passageira que havia chegado não percebeu que seu banco era o 36 e não o 26.
Todos nos seus lugares e a máquina volta para a estrada.
Em alguns minutos alguém coloca uma música alta em seu celular, daquelas que apenas o próprio dono do celular gosta. Enquanto isso, em outro banco, uma pessoa começa a falar no celular como se estar dentro do ônibus fizesse com que a pessoa que está do outro lado do celular ouvisse mal e com isso a pessoa (inconveniente) fala super alto e todos começam a saber um pouco mais sobre a vida daquele passageiro.
De repente, você percebe que uma pessoa está indo ao banheiro, mas o detalhe é que ela demora muito para sair e após sair o ônibus é dominado por um cheiro não muito agradável. A sorte é que logo na sequência acontece a parada para o café da manhã.
Quando você volta ao ônibus pecebe que além do cheiro do banheiro existe um novo aroma e após breve análise descobre-se duas pessoas, uma comendo doritos e outra com uma coxinha, tudo por uma questão de medo de ficar na parada.
Apesar do cheiro o ônibus parece ter um silêncio maior, mas para evitar problemas com barulho você torna a colocar o fone de ouvido e tem certeza que chegou a hora de dormir, pelo menos um pouco, mas o "amigo" do banco de trás acha que o banco da frente é uma extensão do dele e você começa a sentir umas pancadas nas costas sempre que está quase "pegando no sono".
Descobre-se que dormir já não será vantagem e decide ler um pouco. Logo é interrompido pelo companheiro do banco ao lado, que está com vontade de conversar e falar um pouco de sua vida e seus problemas amorosos e o problema é que ele entende que está sendo desagradável só depois de uma hora de muito "bla bla bla". Finalmente para dar fim ao papo, você relata que irá ouvir uma música.
Novo burbulho surge no ônibus e o volume do fone de ouvido é diminuido para que se possa entender o motivo de tanta movimentação. Tudo acontece, pois existe uma criança que não está passando bem do estômago devido ao excesso de buracos e curvas da pista. A criança chora, a mãe não sabe o que fazer, solicita ao motorista que pare para que a criança possa vomitar, mas não existe essa possibilidade, algumas pessoa dão palpites do que deve ser feito, a criança aumenta o volume do choro, a menina não aguenta e vomita dentro de uma sacola e nesse instante o ônibus fica com um cheiro indecifrável de merda, gordura e vômito.
Seu saco já está cheio, mas para melhorar todo o processo, alguns voltam a roncar, surge uma imensa fila no trânsito, o coral de roncos volta com força total e a bateria do seu celular acaba e não existe outro aparelho para ouvir música...
Só surge uma solução...
Tentar apreciar a paisagem e torcer para chegar o final das treze longas horas de viagem, mas, pelo menos, todo sofrimento tem um final!