Olá incomodados... para darmos continuidade a "Clínica de Rua", vou escrever uma experiência que aconteceu a algum tempo, mas apesar do tempo ela ainda é bem real!!!
Era um dia de sol escaldante, ao invés de praia,
era necessário procurar apartamento e foi em meio dessa incessante busca
que decidi tomar em gelado caldo de cana.
Logo que pedi meu caldo percebi que o senhor que atendia seria um ótimo participante da CR.
Logicamente comecei o papo da forma mais comum de
começar qualquer interação com alguém que você nunca viu na vida, ou
seja, comentando sobre o tempo.
Seu Lauro (o tio do caldo de cana) aparentava ser
uma pessoa bem simples de bom coração e muita experiência de vida.
Quando pensei em começar um papo, outros fregueses chegaram e eu decidi
sair.
Visitei mais alguns apartamentos, mas algo me dizia que deveria voltar para falar com aquele bom senhor, segui minha intuição.
Ao voltar já tinha o assunto perfeito, disse que
com tanto calor precisava de mais um pouco do melhor caldo de cana da
região, juntei o útil ao agradável, ao mesmo tempo em que fiz um elogio
fidedigno para um simpático senhor, também acabava de conquistar sua
confiança, daquele que já me chamava de freguês, com direito a um belo
“chorinho” daquele caldo.
Começando a conversar sobre o movimento, as pessoas
que passavam a procura por um apartamento, Seu Lauro ficou tão animado
que já estava querendo que eu virasse seu visinho e ate me mostrou um
apartamento para alugar que era ao lado de sua barraca.
A CR começou a funcionar quando, não sei bem o
porquê, mas o assunto foi sobre família. Nesse momento o tom de desabafo
do bom Lauro foi nítido.
Ele comentava sobre a desvalorização dos netos para
com os avós atualmente. Comecei nesse momento a lembrar de como e
quanto vivi com meu avô. Quantas voltas dei com minha avó, quantas vezes
dormi na casa deles e sempre foi tudo muito bom, por isso não entendia o
ponto de vista de Lauro, mas aos poucos as coisas tornaram-se claras.
Aquele sábio homem começou a falar com palavras
praticamente proféticas, dizendo que os netos não valorizam a casa dos
avós, pois muitas vezes não tem o computador que ele tem em casa, não
tem o vídeo game de ultima geração e mesmo que ele leve o dele a
televisão não será das melhores, o carro do vovô não é dos mais modernos
e sua casa muito menos e que dessa forma os avós não eram mais um
grande atrativo para os netos.
Apesar dos argumentos ainda não queria acreditar,
mas é fato hoje que os bons velhinhos não são vistos como pelo menos a
minha geração via.
Seu Lauro com a CR me ajudou em primeiro lugar,
quebrar o meu paradigma de que a forma que os netos de hoje se
relacionam com os avós seja a mesma forma que há alguns anos atrás e em
segundo lugar, confirmar meu ponto de vista de que o mundo
“virtualizado”, capitalizado e consumista, está realmente nos domando, o
Ser mais uma vez está perdendo para o Ter.
O que acha de ir para a casa da vovó e do vovô agora? Ou levar seus filhos para lá? Ou pelo menos uma “ligadinha”?
Lendo o "desabafo" do bom velhinho do caldo de ana, percebi como o mundo ta longe e perto ao mesmo tempo. Lembrei do meu tempo de criança onde nas férias passava na casa da vó no sítio... era maravilhoso, por isso aquele velho dizer "comidinha de vó"... Hj minha mãe é vó e muita coisa mudou desde os tempo de criança. Posso considerar que a minha mãe junto a minha sobrinha ainda exerce essa "antiguidade" contando historias do passado, fazendo a hora da leitura, montando quebra-cabeças, inventando brinquedos feito a mão... por agora a tecnologia (virtualização) ainda não "seduziu" minha sobrinha!
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