terça-feira, 18 de setembro de 2012

Estamos preparados para desconstruir?



Baseado na discussão da aula de Filosofia do mestrado, do texto de Jorge Luiz Viesenteiner (Dr. em Filosofia pela UNICAMP) "Aprender a ver, aprender a pensar, aprender a falar e escrever: condições integrantes do conhecimento de Bildung no crepúsculo dos ídolos de Nietzsche", me inspirei a escrever um breve texto.
Nem sempre aquilo que imaginamos é aquilo que acontece no seu final, não temos esse controle pleno dos resultados e da vivência que buscamos. Ao estarmos no meio do desejo acabamos ludibriados, deixando de ver aquilo que realmente é.
Surge, portanto, o espírito livre que enfrentaria o espírito cativo, ou seja, na necessidade de questionar-se sobre o que seria o bem e o mal, o forte e o fraco, o falso e o verdadeiro, quando muitas vezes acreditamos nisso ou naquilo muito mais por força de um hábito já existente, surgindo dessa forma a hipocrisia humana. Ao afirmar o caos e sua existência, a vida firmada pode ter mais valor do que a vida renunciada. 
O que queremos como professores? Formar seres humanos melhores, ou apenas formar seres humanos que "pensam melhor"? Ou ainda, o que seria um "ser humano melhor"? Colocar-se a prova para cultivar-se e formar-se não seria um caminho para torna-se melhor?
Ninguém planeja as dores, perder um amor, ter uma doença, perder o emprego, morrer, mas são processos necessários para compreender e saber como viver a vida, isso tudo faria parte do Pathos.
Todo esse movimento acontece devido a forma que aprendemos a ver, pensar, ouvir, falar e escrever. 
Para o verdadeiro ver, não pode existir a imediaticidade do momento, deve-se agir com paciência, compreendendo o que é posto, por mais que isso possa nos indignar, muitas vezes a atitude imediata nos devolve respostas não almejadas. Necessitamos um distanciamento do momento vivido para conseguir o discernimento para uma atitude, algo que talvez seja muito complexo em uma sociedade tão imediatista. 
O pensar faz parte do distanciamento, para uma nova reflexão, possibilitando nova análise e nesse ponto podendo ter um parecer mais consciente e talvez adequado. 
Ouvir, até mesmo o silêncio, aquilo que não está posto, ouvir o complementar, aquilo que não parece ser importante, pode ser a fonte para as respostas certas que precisamos dar. 
Posteriormente falar e escrever com prioridade, que seria a síntese de toda essa construção anterior, a interlocução entre o ver, pensar e ouvir. Já diria Nietzsche que toda a pressa é indecente. 
Percebe-se que muitas vezes ler um autor nos faz defendê-lo de todas as formas, porém é importante tentar compreender qual o ponto que ele necessita chegar para tal discussão, qual o contexto em que ele está inserido, deve-se suportar alguns pontos os quais julgamos insuportáveis, necessitamos desconstruir aquilo que já recebemos pronto para então conseguirmos chegar em uma nova reflexão. 
A tarefa não é simples e em muitos momentos não temos o discernimento para a compreensão, mas apenas a prática pode nos levar próximos da perfeição e a tarefa não poderia ser fácil, os caminhos nunca serão liso e retos, no momento em que as dificuldades surgem é que temos e podemos sentir o verdadeiro gosto de uma conquista.


Acredito que o texto analisado mostra alguns pontos importantes, os quais nos faz pensar qual realmente seria o papel do mestre. Criar seres humanos melhores? Tornar os seres humanos mais pensantes?
Mas o que seria melhor? O que é ser melhor?
Estamos preparados para o enfrentamento das decepções sem frustrações e sem culpa?
Somos seres minados de paciência, ou o excesso de velocidade e necessidades nos arrasta para um universo muito mais imediatista?
Somos suficientemente capazes de ter paciência para não termos reações imediatas à aquilo que ilustra nossa visão? Ou ainda sabemos dançar (pensar) sem seguir os passos pré estabelecidos?
Temos tempo suficiênte para ouvir o silêncio? Ou ainda conseguimos ouvir nossa própria voz?
Ou estamos adestrados a ouvir apenas aquilo que os outros já nos fala?
Até que ponto conseguimos nos permitir e ao mesmo tempo nos deixar perder o controle?
Toda a pressa é indecente, diria Nietzsche, mas hoje em dia quem não vive com pressa?  Quem não quer saber a última informação?
E quando não temos mais o controle, conseguimos lidar com a frustração? Ou isso nos deixa ainda pior?
A certeza nos enrigesse de tal forma que esquecemos o valor e o prazer de termos dúvidas, porém vivemos em um momento que para tudo temos uma certeza. O método tem uma forma de ser trabalhado, o professor tem um padrão para ser seguido, temos definida a idade em que podemos dirigir e a que podemos votar, regras, leis, ordens, condutas, traça a forma e o roteiro que devemos seguir, uma vez que a vida, a nossa vida, deveria ser levada do nosso jeito, mas onde está a liberdade que damos a nós mesmos?
Nietzsche, dito extemporâneo, já alertava da necessidade de não sermos imediatistas em nossas atitudes, o que ele diria hoje em uma sociedade, a qual o imediatismo é o padrão a ser seguido?
Talvez todas essas perguntas não tenham respostas, mas talvez essa seja a forma para "construirmos" seres humanos melhores.



Nenhum comentário:

Postar um comentário