A velha máxima de Michael de Montaigne nos remete ao exercício de filosofar e estar questionando-se todo o tempo. Não existe uma chave para que as coisas possam ser decifradas, porém como as coisas funcionam?
A forma ensaística de Montaigne de escrever auxilia no processo de desconfiar daquilo que é afirmado e pré estabelecido. O autor relata que os professores de sua época (28 fevereiro de 1533 a 13 setembro de 1592), eram um tanto quanto pedantes, o questionar não era valorizado, mas e hoje?
Em nossas salas de aula os estudantes são estimulados a questionar?
O que dizer dos estudantes que dizem saber o que querem falar, mas não conseguem saber de que forma? Ou como expressar-se?
Sem saber as questões existentes em uma criança, o que podemos, ou de que forma poderemos auxiliar na formação humana?
Será que dar voz para essas crianças não seria uma boa forma de saber quais caminhos seguir na educação?
Essas reflexões partem do texto de Divino José da Silva (UNESP) - "O Ensaio em Montaigne: Um Estilo em Filosofia da Educação", que foi comentado na disciplina de Seminário de Dissertação pela professora Lúcia Hardt, auxiliado pelas reflexões do capítulo XXVII - Ensaios, Livro I - "Da loucura de opinar acerca do verdadeiro e do falso unicamente de acordo com a razão" e capítulo XXXI "Dos Canibais", ambos de Montaigne.
O ponto principal - porém longe de trazer respostas prontas, ou ainda prescrever algo exato - é continuar exercitando o "que sei eu?"
O exercício de não acreditarmos no primeiro instante em tudo aquilo que ouvimos ou ainda tentar analisar as coisas de um ponto de vista menos carregado de pré julgamentos torna-se fundamental em uma relação pedagógica.
Cabe nesse instante uma passagem do capítulo XXVII "aprendêssemos com exatidão a diferença entre uma coisa e outra, entre o que está contra a ordem e a natureza, e o que se situa simplesmente fora do que admitimos comumente, entre não acreditar cegamente e não duvidar com facilidade."
Ainda cabe lembrar outra passagem "a glória e a curiosidade são dois flagelos de nossa alma; esta nos impele a meter o nariz em tudo; aquela nos proíbe deixar seja o que for sem decisão ou solução", volta-se ao ponto de necessidade de questionar-se a todo tempo.
Porém vale lembrar que em muitos momento as pequenas coisas - talvez o questionamento de uma criança - pode auxiliar em diversos momentos a aprendizagem, nos desprendando daquilo que consideramos maior - talvez o saber do professor. Como um embasamento para essa ideia utilizo as palavra de Divino José da Silva: "por que ler Montaigne, ainda hoje? (...) Montaigne é comparado, por Renato Janine Ribeiro (2004, p. 221), a Pascal e Nietzsche, pois tem em comum com estes autores o aguçamento dos sentidos e da razão para "[...] agarrar o pequeno, o detalhe, a falha e a partir dele pensar. Não é pensar pela porta grandiosa, a do cânone, a do registro solene; é pensar pela porta vadia, pela exceção, pelo que é torto, pelo que foge ao cânome."
Não tendo a pretensão de escrever com prescrição, deixo a você leitor, ideias para pensar!
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